Ah…o que fazer!!! Eu sou também formado  pelo que os outros pensam de mim! E nunca me senti eu mesmo sem antes sentir o que eles diziam que era sentir. Eu sou um grande olho – dos outros. Eu sou um grande orgasmo fingido – mais orgasmático do que o orgasmo dos outros!

E perpassa a vida a expectativa dos outros pois olho para eles como um espelho meu, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu? Mas antes fosse só mais belo, pois agora belo é só mais uma variável e tudo se alterna numa proporção exponencial. Em tudo, agora, de tudo e ao mesmo tempo, sou o que todo mundo espera e pretendo ser o que supera todos ao mesmo tempo. Enfim, sou um orgasmo múltiplo constante. Sou consumidor.

Fomos educados para o resultado de consumir; somos gueixas do consumo, prontos a dar prazer ao mercado desde a terna infância. E apertam os nossos pés para que eles não cresçam e não andemos longe.

Não somos potros reprodutores – a eles tudo soa seco e mecânico – afinal eles produzem e trazem sementes valiosas. Não, não…nós somos gueixas do consumo e do consumo em tudo: consumimos honra, sexo, dinheiro, beleza, igreja, bíblia, fé, Jesus, comida, roupa da moda e tudo que se pode consumir pois o que ainda não se consome ainda se há de consumir. Consumimos família, e como Moloque exigiu filhos também consumimos os nossos.  Consumimos pessoas – e nos consumimos.

“O zelo da Tua casa (de consumo) me consome”…e o zelo de nossa consumificação nos consome; pois nem sempre temos o que trocar, embora troquemos beijos…

Eu me ponho em pé, eu me ponho sentado, eu me deito e também acordo e tudo está ligado ao consumir…e sou consumidor…e sou só isto: meu corpo é um grande bolso (conheci homens que eram só olhos, outros que eram só ouvidos, outros só a barriga, outros só a genitália e outros só muitas diversas coisas mais). Mas eu sou só um grande bolso que é tudo isto e tem pretensões de ser o que há de ser…Pois leio a Biblia com o bolso, canto corinhos com o bolso, ouço o sermão com o bolso,  amo o próximo, minha família e meu filho  com o bolso, oro com o bolso e o bolso é pré-condição de tudo que penso. Enfim: penso com o bolso.

Sou o grande olho dos outros sobre mim – sou um grande bolso que se exibe aos olhos do mundo. Mas o meu coração e a realidade dizem que mesmo que tivesse muitos bens…seria só um bolso…