“No sentido popular do termo, entusiasmo significa um elevado estado de excitação mental. Nesse estado, todas as faculdades são despertadas, os pensamentos se tornam mais dilatados e vívidos, os sentimentos ficam mais férteis e a vontade,  mais determinada. É nesses períodos de excitação que as mais importantes obras dos gênios, poetas, pintores ou guerreiros têm sido concretizadas. Os antigos faziam referência a esse estímulo do homem interior como motivado por influência divina. Consideravam as pessoas assim excitadas como que possuídas ou possuindo um deus dentro de si.  Daí eram chamadas entusiastas (“enteosiastas”). Em teologia, pois, os que ignoram ou rejeitam a orientação das Escrituras, e presumem ser guiados por uma influência divina interna para o conhecimento e obediência da verdade, são propriamente  chamados entusiastas. Esse termo, contudo, tem sido em grande  medida superado pela palavra místicos“. (Charles Hodge, Teologia Sistemática, Editora Hagnos, 2001, Sp, página 46).

A utilização da informação acima transcrita como parâmetro de compreensão da realidade evangélica contemporânea nos induz a algumas reflexões: a ideia de “deus pessoal” (acredite-me, já vi “namastê – o deus que está em mim saúda o deus que está em você – sendo dado e aconselhado em igrejas evangélicas pelo reporter testemunheiro Carlos Bianchini); as excitações geradas pelas pregações motivacionais geralmente são confundidas, pelo crente, com movimento interno do Espirito – e geralmente os pregadores ou assim pensam ou corroboram; a excitação causada pela ação do Espirito mediante a aplicação da Palavra em nossas almas, seja no sermão, seja na reflexão ou oração é superenfatizada em detrimento da própria aplicação – isso acaba gerando condenação para nós, pois as consequências da iluminação do Espirito são afastadas em favor do próprio processo de iluminação, gerando espiritualidade sem frutos.    

Uma reflexão do texto acima repercute na esfera econômica: cada pessoa tendo um deus dentro de si é altamente conveniente à economia de serviços, gerando trabalhadores motivados e consumidores vorazes; a ausência de um Deus Único externo e a presença do deus individual em cada um legitima a diversidade que a multiplicação de novos produtos e serviços exige. A repercussão jurídica desse fato – mantendo-se o costume usual de seletividade de condutas puníveis conforme o interesse econômico da sociedade – é a criminalização ou alijamento das posturas religiosas que desqualificam a ideia de “deus pessoal de cada um”. Enfim, estamos próximos de ver realizada a profecia de Friederich Nietzsche, de que o Ocidente caminha para os valores das religiões orientais, como o hinduismo, confucionismo e budismo, com toda a sua passividade e alienação da vida…