BLOG CASTRO MAGALHÃES

Editor: Carlos HB de Castro Magalhães (MTb 0044864/RJ)

Religião, Direito, Política, Cultura Pop e Sociedade

Editor: Carlos HB de Castro Magalhães, Registro Jornalista MTb 0044864/RJ

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“(…)Fique sintonizado por um pouco mais de tempo e verá os empresários populistas retratados como algo não muito distante do próprio Todo-Poderoso. Num comercial de 1.998 da divisão Lotus da IBM que dançava nas telas da tevê ao som do hino nietzschiano do R.E.M. “I am Superman”, mostravam-se grandes multidões tratando nobremente de sua vida  enquanto uma legenda minúscula perguntava, “Quem está em toda parte?” Na resposta, a IBM se identificava tanto com o grande Povo quanto com o nome de Deus tal como revelado a Moisés: as palavras “Eu Sou” grosseiramente rabiscadas num pedaço de papelão e erguidas acima da multidão frenética.  As perguntas continuavam, percorrendo a lista da onipresença à onisciência e à onipotência – “Quem sabe?” “Quem é poderoso?” -, enquanto as cenas gravadas da realização empresarial pulsavam ao lado: um bairro comercial americano, uma fábrica de roupas chinesa, uma sala de montagem de microchips e, finalmente, a sede do próprio juízo divinio, o pregão da NYSE. “Posso fazer qualquer coisa”, cantava uma cativante voz de computador”

O sentido religioso na resplandecência que cai sobre a cidade
"The Spirit of New York" por Thomas Kinkade: O sentido religioso na resplandecência que cai sobre a cidade

 “Se havia algo assombroso na presunção dessa peça particular de autodeificação empresarial, essa fusão de Deus, IBM e Povo, havia nela também algo de notavelmente normal. Os americanos já haviam transformado em best-sellers livros como God wants you to be Rich e Jesus, Ceo. As pinturas de Thomas Kincade, o maior mestre do kitsch da década (e um homem que registrou de fato como marca uma descrição de si mesmo – “pintor da luz”), misturavam livremente um simbolismo religioso opressivo com os adereços da grande fortuna, jogando referências bíblicas aos lado de mansões resplandecentes e terraços coloridos. “Seja feita a vontade do Mercado” foi o título que Tom Peters, o guru dos gurus, escolheu para um capítulo de seu livro sobre administração de 1.992, um campeão de vendas, enquanto o tecnoextasiado Kevin Kelly, cujo livro de 1.994, Out of  Control, foi um esforço sistemático para confundir divindade com tecnologia, referiu-se com toda tranquilidade a uma lista de indicadores da Nova Economia que formulara como “As Nove Leis de Deus”.  O céu foi parecendo ainda mais próximo à medida que a década avançava e os grilhões ríspidos da “Velha Economia” desapareciam. O editor  da Fast Company , uma revista  que trata da apoteose da nova linhagem de líderes empresariais, descreveu sua publicação em 1.999 como uma “religião”; uma analista da Morgan Stanley foi rotineiramente mencionada na imprensa como “A Deusa da Internet” (sua escolha de uma empresa foi descrita por uma revista como uma “imposição de mãos”), uma operação online muito discutida emparelhou investidores “anjos” com novas empresas agradecidas num ciberespaço chamado “Paraíso”; anúnciso do mecanismo de busca GoTo mostraram muçulmanos rezando e sugeriram  que você poderia ter “seguidores leais” como aqueles caso prestigiasse o produtos deles; e anúncios dos telefones celulares Ericsson insistiram em que o produto  conferia poderes de onipresença: “Você está em toda parte””

Texto extraído do livro Deus no céu e o Mercado na terra, de Thomas Frank, Rio de Janeiro, Record, 2.004, páginas 23 e 24.


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