“Começara a corrida para descrever uma realização que suplantava a nossos olhos qualquer outra na história humana, para exaltar os feitos do Homem de Negócios nos termos mais grandiosos possíveis. “Não é mesmo um tempo fabuloso?”, perguntou em 1.996 uma série de comerciais da megaempresa de telecomunicações MCI. “Celebremos um triunfo americano”, ribombou um editorial de Mort Zuckerman no início do ano seguinte em US News & World Report, um “triunfo” fundado na sólida rocha do princípio político pró-negócios: “privatize, desregulamente e não interfira no mercado”. E, à medida que a lógica da “Nova Economia” se espalhava sobre todas as coisas, os imperativos do Homem de Negócios inundaram todas as outras formas de imaginar o mundo. “Tudo agora é pensado como algum tipo de negócio”, escreveu o teórico da administração Charles Handy em 1.994. “Atualmente estamos todos ‘fazendo negócios’, quer sejamos médicos, sacerdotes, professores ou assistentes sociais”
(…)
“A ‘revolução dos negócios’ é claramente absurda sob muitos aspectos. No que deveria ser, por direito, a área mais realista da vida americana, encontramos PhDs especializados em “aura”, astrologias completas da “liderança” e da “criatividade”, teorias da arte e do aprendizado tão elementares que teriam podido ser recortadas do fundo de caixas de cereais, e adultos responsáveis absolutamente imersos em manuais de autoconhecimento originalmente escritos para adolescentes. Apesar disso, não adianta simplesmente rejeitar a ‘revolução dos negócios’ rindo de suas manifestações mais grotescas, do panorama alucinado de colarinhos brancos desinibindo-se, fazendo tatuagens, entrando em contato com os ritmos do universo, dedicando-se a esportes radicais, ou comparando-se a Che Guevara. Sim, a revolução dos negócios é cômica, mas também é mortalmente séria. Seus membros podem passar seus fins de semana uivando para a lua, mas durante a semana estão ajudando a moldar o mundo em que o resto de nós vive. De fato, com o declínio dos sindicatos e a redução do governo, os executivos como classe têm agora mais poder do que em qualquer época desde os anos 20. Suas crenças podem ser patentemente errôneas; seu mundo de idéias pode ser pouco mais que uma superstição; as pessoas que arrebataram de tal modo sua atenção podem se charlatões que exploram os desesperados e os crédulos; suas instituições de ensino superior podem ser fábricas de falsificação de autoridade espiritual; mas, ainda assim, o poder de que eles gozam permanece terrificantemente absoluto”
(…)
“A teoria da administração da década de 1.990 tratou invariavelmente mais da natureza da empresa do que do aperfeiçoamente de seus processos ou produtos. O objeto real da teoria “revolucionária” da administração dos últimos anos não foi a eficiência ou a excelência, ou mesmo o empowerment, mas uma meta muito mais abstrata: a legitimidade política e social da empresa. “
“O ‘povo’ em cujo nome os novos teóricos da administração se bateram era mais bem conhecido como ‘o mercado’. Só atendendo às demandas do mercado, eles afirmvam, uma organização atendia ao povo, tornava-se parte legítima da vida democrática da nação. Assim, não só as ambições do governo e dos sindicatos com relação ao trabalho eram automaticamente ilegitimas, como a própria empresa podia ser vista sob uma luz inteiramente nova. Ao integrar o mercado às suas operações, os executivos se tornariam mais justos, mais amáveis, mais capazes de escutar.”
Texto extraído do livro Deus no céu e o Mercado na terra, de Thomas Frank, Rio de Janeiro, Record, 2.004, páginas 25, 26, 223, 224 e 236

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