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Editor: Carlos HB de Castro Magalhães (MTb 0044864/RJ)

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Transcrevo abaixo trecho da entrevista que Jürgen Habermas concedeu a Eduardo Mendieta, na New York State University. Eduardo é fortemente influenciado pela filosofia da libertação sul-americana. A entrevista foi concedida no verão de 1.999, publicada na Revista Jahrbuc für Politische Theologie. Está disponível na íntegra em português no livro A Era das Transições, de Habermas, publicado pela Editora Tempo Brasileiro

“As religiões que se apóiam numa revelação são transmitidas na forma dogmática de uma “doutrina”. Porém, no Ocidente, a doutrina cristão foi configurada numa teologia científica, graças aos meios conceituais e às formas escolásticas da filosofia. Essa racionalização interna facilitou uma mudança cognitiva de sua figura, que, apesar de todas as ambivalências de Lutero, provocou, na seqüencia do movimento da Reforma, um modo de fé reflexivo, pois, nas sociedades modernas, as doutrinas religiosas têm que entara numa concorrência com outras pretensões de verdade e com outras potências religiosas. Elas não se maovimentam mais num universo fechado, regido pelas suas respectivas verdades, tidas como absolutas. Qualquer anúncio da fé defronta-se, hoje em dia, não somente com o pluralismo de diferentes verdades de fé, mas tamb´me com o ceticismo de um saber científico profano e falível, cuja autoridade social depente, por isso, de um processo de aprendizagem que implica uma revisão constante. A dogmática religiosa e a consciência do crente têm que afinar o sentido ilocucionário do discurso religioso, isto é, o “ter como verdade” de uma proposição religiosa com esses dois fatos. Qualquer confissão religiosa tem que se colocar em relação, não somente com os enunciados concorrentes de outras religiões, mas também com as pretensões da ciência e do senso comum secularizado, que já está, em grande parte, permeado pela ciência”

“Por isso, a fé moderna torna-se reflexiva, pois só pode se estabilizar através de uma consciência autocrítica acerca da posição não exclusiva que ela assume no nível de um discurso, que é limitado pelo saber profano e compartilhado com outras religiões. Essa consciência descentradora acerca da relativização da própria posição – que não signifca, necessariamente, uma relativização das verdade de fé – é a marca principal da forma moderna de fé. A consciência reflexiva, que aprendeu a observar-se a si mesma com os olhos dos outros, é constitutiva para aquilo que John Rawls caracteriza como a racionalidade das reasonable comprehensive doctrines. Isso tem uma implicação política importante, a saber, que os crentes podem saber por que têm que renunciar ao emprego da força, especialmente da força organizada pelo Estado, para impor suas verdades de fé. Nesta medida, aquilo que caracterizamos como “modernização da fé” constitui um pressuposto cognitivo necessário para a implantação da tolerância religiosa e para a entronização de um poder do Estado neutro”.

“Chamamos fundamentalistas os movimentos religosos que propagam – e até praticam – o retorno à exclusividade de conteúdos de fé pré-modernos. Entretanto, o fundamentalismo não tem mais a inocência da situação epistêmica dos velhos impérios, nos quais as religiões se propagaram inicialmente, onde eram tidos, de certa forma, como isentos de limites. A China atual pode fornecer um exemplo dessa consciência imperial que não conhece limites e que serviu para fundamentar o “universalismo” limitado das religiões mundiais. Porém, as condições modernas referem-se a um universalismo em sentido estrito, kantiano. Por isso, o fundamentalismo é a resposta errada a uma situação epistêmica, que impinge a compreensão de que a tolerância religiosa é inelutável; com isso ele sobrecarrega os fiéis, que têm que enfrentar a secularização do saber e o pluralismo das cosmovisões, sem deixar que afetem as próprias verdades de fé”.


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