1. As manifestações prosseguem pelo país, espalhadas, menos densas e por categorias específicas, como previsto nas notas anteriores. Com elas acontecem atos de desobediência civil, como também previsto, com depredação de pedágios e outros bens, interdição de vias de escoamento de produção e confrontos com a polícia.
2. As instituições funcionaram como contenção de uma solução de afogadilho quando ontem o Tribunal Superior Eleitoral posicionou-se sobre o plebiscito. O Congresso busca votar as demandas reprimidas e o Executivo trabalha com retórica e destinação de verbas e projetos. Quanto ao primeiro, não se desfaz a percepção de que a sociedade crê que ele trabalha por medo; quanto ao segundo, permanece a sensação de incredulidade num discurso “mais do mesmo”.
3. Lula começa promover seu descolamento da presidente Roussef e isso provoca um crescimento do movimento pelo seu retorno. A sensação de onipotência e falta de senso ético da classe política é emblematizada nessa conduta e em outras, como o uso de avião da FAB por líderes congressistas; e dentro do atual movimento a Nova Sociedade não as deixará impune. A Nova Sociedade reduziu o espaço para repetição de manobras habituais da Velha Política. Por outro lado, o Congresso parte para cima da Presidente Roussef, o que indica a perda de controle e influência de Lula sobre ele.
4. A anomia permanece e se expande, como demonstram os confrontos e vandalismos. Um outro dado correlacionado é o aumento em 30%, nos últimos 25 anos, da taxa de suicídio entre os jovens – justamente na faixa etária daqueles que hoje compõem grossa parte das manifestações. Como se sabe, anomia e suicídio se correlacionam enquanto fenômeno social. As normas morais, sociais e legais se tornam de confusa compreensão e aceitação pela sociedade e parece que as situações de impunidade são um dos principais tropeços à correta cognição delas.
5. As tendências parecem ser as seguintes: continuação dos protestos, aumento dos custos de produção por causa dos problemas de transporte, aumento de preços de produtos, algum desabastecimento. Na esfera política, pode se consolidar o isolamento da presidente Roussef, com repercussão em eventual renúncia ou processo de impeachment, sucedendo o mesmo aos presidentes das Casas Legislativas do Congresso Nacional, principalmente do Senado. A antecipação da prisão dos condenados na ação penal do mensalão é também uma tendência bem acentuada, principalmente para reversão da anomia que se avoluma. No campo externo, a confiança institucional do Brasil despenca.

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