O que mais chama atenção no caso do adolescente deficiente mental tatuado sob cárcere, possivelmente vitima de tortura – e certamente vítima de uma lesão corporal grave – foi a autoincriminação dos autores do delito. O tatuador e seu comparsa a tudo filmaram e fizeram chegar às redes sociais, sem o menor constrangimento e ignorando a lei, a polícia, a razão e as leis naturais.
Anos atrás, quando Sub Corregedor da Seccional Fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil, tive que relatar um procedimento iniciado por duas bacharéis em direito contra uma advogada. Resumindo: as duas primeiras formaram com a terceira uma sociedade irregular de advocacia (não haviam sido aprovadas no Exame de Ordem), e quando a terceira foi aprovada, carregou consigo toda a clientela. As bacharéis representaram contra a advogada por ‘roubar a clientela delas’. Enfim, produziram prova contra si próprias por exercício ilegal da profissão. Fizeram tudo ignorando as regras legais e profissionais.
Nós sabemos que a anomia era um fenômeno presente na delinquência de colarinho branco e isto não é segredo. Isso parece que deixou de ser a regra, conforme observamos pelas operações da Polícia Federal e pelo ‘boom’ dos serviços de ‘compliance’. Porém, parece que de um modo geral, num misto de embrutecimento e ignorância decorrente das mudanças sociais, a anomia se expande.
Não precisamos lembrar que o aumento da taxa de suicídio está vinculada à anomia, conforme Durkheim ensinou ao estabelecer o tema. Desde que a esquerda assumiu o poder a taxa de suicídio entre os jovens brasileiros subiu mais de vinte por cento. É evidente a correlação entre esse fato e as políticas culturais e sociais promovidas por esse grupo governante. As ações sociais e culturais da esquerda, mais a falsa expansão econômica e a crise que ela promoveu, destruíram completamente os valores da sociedade, resultando numa desorientação da juventude em relação aos mesmos, ainda mais que nenhum valor novo foi posto no lugar e – pelo contrário – os valores naturais e históricos foram e são completamente vilipendiados. Não só não há modelos de comportamento social para os jovens, como os modelos decorrentes da lei natural e da razão são constantemente denegridos.
Quais as metas culturais da juventude brasileira? O que ele busca na vida? Como ela deve se comportar para alcançá-las? Simplesmente essas perguntas soam cada vez mais sem sentido, vez que em anomia a sociedade. Parece bem picotado e disperso “o conjunto de representações axiológicas comuns que regulam o comportamento dos membros de uma sociedade ou de um grupo“, como disse Robert Merton em sua obra de 1.957.
As pessoas acima citadas cometeram delitos. Seja o tatuador e seu comparsa, sejam as bacharéis, todos estavam completamente inadequados socialmente. Fizeram ‘regras’ pessoais completamente dissociadas da sociedade. Realmente, não tinham propriamente ignorância da lei ou da malignidade do ato, mas as negavam como fins culturais propostos (manter-se integro/respeitar o outro/não fazer justiça com as próprias mãos/cumprir a lei) e aos meios institucionais para alcançá-los (procuram a polícia para entregar o ladrão/ser aprovado no Exame de Ordem). Foi, sem dúvida, APATIA em relação aos valores e instituições sociais.
O que mais perturba quanto ao expressivo apoio que o tatuador ganhou nas redes sociais é que no fundo a simpatia de muitos internautas por ele é mais APATIA (negação) – em relação aos fins culturais propostos e em relação aos meios para obtê-los – do que propriamente algum sentimento positivo em relação ao criminoso. É uma identificação entre apáticos axiológicos e institucionais.
Segundo Durkheim e Merton a apatia precede a rebelião, em que novos fins culturais são estabelecidos e novos meios para obtê-los são propostos. Pode vir uma mudança de regime por aí.

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