Uma das defesas dos partidários políticos do ex-presidente Luíz Inácio LULA da Silva é denunciar a sociedade que concorda com a condenação e encarceramento dele como uma sociedade punitiva. Usam as expressões punitivismo, endurecimento, reação social a mero desvio, para indicar que o assentimento social às decisões judiciais não seria cientificamente legítimo, mas expressão de uma ideologia do senso comum e, por isso, inconstitucional a decisão que o puniu.
Eles buscam deslegitimar o próprio direito penal, dizendo que a vontade do cidadão e da coletividade de cidadãos é uma mistificação racionalizante das funções defensivas e éticas da psiquê; para eles, a punição que a sociedade pede não tem a função de diminuir a criminalidade, mas apenas de reforçar – na psiquê de cada um que a pede – mecanismos psicológicos de auto-premiação preventiva contra condutas desviantes; ou de compensação pela não fruição do comportamento punido no condenado.
É um engano; mas como todo engano de origem marxista mescla-se com alguma verdade.
Sem dúvida ao ver o mal ser punido o individuo reforça em si as proibições às suas tendências ao mal. Mas, afinal, esta é uma das funções da lei, e não a deslegitima – ao contrário. E isso sem dúvida ajuda a dissuadir as pessoas da prática de crimes e desvios. O erro da crítica esquerdista – que alcança muitos cristãos e mesmo cristãos conservadores – é reduzir tudo a este esquema psicanalítico de reforço do super-ego ou de compensação psicológica.
Daí faço a pergunta do título: é lícito um cristão celebrar a prisão do Lula?
O cristão deve responder essa pergunta a partir do seguinte pressuposto: a partir de que fenômeno um cristão se afasta de condutas desviantes ou criminosas? Do fenômeno psicanalítico do reforço do super-ego ou do fenômeno bíblico teológico da regeneração-justificação-santificação?
Não que o fenômeno psicanalítico de reforço super-ego não ocorra no cristão; ao contrário, é uma graça comum que atinge tanto crentes como não crentes; e Deus o estabeleceu para que a vida em sociedade fosse suportável. Contudo, em sua reflexão sobre o gozo com a condenação do Lula o cristão deve estar atento até que ponto a super ênfase no evento não é uma forma de auto-justificação por comparação ou mesmo uma confiança no reforço do super-ego como uma espécie de devoção santificadora.
Saudemos, sem dúvida, a benfazeja condenação de um homem poderoso; condenação que admoesta a sociedade de que o crime não compensa. Isso é salutar, benéfico, legitimo e bom; mas não nos esqueçamos que isso não nos faz mais santos.

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