O wikipedia define o politicamente correto como “o adjetivo usado para descrever a evitação de linguagem ou ações que são vistas como excludentes, que marginalizam ou insultam grupos de pessoas que são vistos como desfavorecidos ou discriminados, especialmente grupos definidos por sexo ou raça”. Na discussão do tema da liberdade religiosa o politicamente correto encontra abrigo na evitação do caráter exclusivista e crítico às demais de uma doutrina e/ou prática religiosa; bem como no apelo a uma unidade das religiões, mesmo que contraditórias e opostas entre si. Em ambos os casos o politicamente correto expressa-se com expressões como “todos os caminhos levam a Deus”; “o que importa é a fé”; “as religiões são muitas mas Deus é um só”; “quem ama inclui”; “toda forma de amor não é pecado” e congêneres, sempre num viés inclusivo.
Essas abordagens prejudicam uma discussão séria e profícua sobre o exercício da liberdade religiosa pois elas são uma falsificação da estrutura heurística pertinente a esta discussão. Por heurística refiro-me ao encontro de soluções para temas complexos pelo próprio indivíduo, através de atalhos mentais; ou seja, no nosso caso, a forma do homem comum compreender problemas decorrentes do exercício liberdade religiosa. Na civilização ocidental, sob influência platônica, o indivíduo geralmente resolve problemas complexos acerca dos quais desconhece dados complexos a partir da tríada verdade, beleza e bondade: é verdadeiro aquilo que ilumina a bondade e a beleza. Ou seja, numa situação complexa, repara-se no que é belo e bom e tem-se por verdadeiro aqui lo que nos fez percebê-los.
Os formadores de opinião falsificaram a estrutura da heurística comum para abolir as fronteiras entre as religiões e crenças e criar sentido ecumênico e nivelador do conteúdo delas, conforme expressam os slogans acima. Por isso, têm-se que um evangélico que diz que uma entidade da Umbanda é um demônio está errado, embora Jesus ou qualquer dos Apóstolos, na ortodoxia protestante, historicamente, possivelmente também assim considerassem se aqui estivessem. De igual modo, se um presbiteriano como eu, manifestar sua secular confissão de fé (a de Westminster) de que o casamento é entre homem e mulher e se negar a reconhecer um par homossexual como casal, é visto como homofóbico. Num e noutro é visto de modo negativo, por causa de suas crenças, e devido a um falso atalho mental, na verdade um erro de cognição chamado reducionismo.
Ora, tal exclusão da fidelidade à crença levada a efeito pelo politicamente correto é feia e não caridosa, pois não permite a integridade de crenças e não aceita que as pessoas tenham uma crença pessoal e a manifestem; é feio pois as crenças aparecem mutiladas pelo politicamente correto; e não é caridosa, não é boa, pois só podem ser expressas se mutiladas forem. Contudo, um discurso redutor do significado salpicado de apelo emotivo acaba por fazer parecer que a exclusão dos artigos de fé politicamente incorretos são medida inclusiva, ostentando, tal exclusão, uma falsa beleza e caridade.
Logo se vê que o politicamente correto não oferece relato bem estruturado do mundo das religiões. Ele acaba por conduzir a fantasias e irrealidades, a confundir desejos fraternos com possibilidades reais de crença e existência, a estabelecer uma superioridade moral fictícia e perversa, e, o pior – ao retirar as fronteiras de entre as religiões – acaba por extinguir o único lugar onde elas, de verdade, podiam se encontrar para conversar. A fronteira é lugar de barreiras; mas também é lugar de diálogos – delas não se precisa abrir mão para conversar.

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