É uma verdade perturbadora: como podemos abrigar um pecado em nosso coração e ao mesmo tempo crer no sacrifício redentor de Cristo como um fato real? Sim, pois se abrigamos um pecado em nossa vida, abrigamos aquele que mandou Nosso Senhor para a cruz.
Minha mente está muito perturbada com isso. Eu sei que a promessa era de que Ele não só não teria mais memória de nossos pecados, mas também de que os pisaria, quebrando a estrutura deles em nós (Miqueias 7.19). Às vezes penso como pode haver uma destruição de uma estrutura pecaminosa se eu mesmo ainda abrigo, agasalho e alimento certos pecados. Penso se o fato de desfazer-me com facilidade de uns pecados e escamotear outros significa realmente um progresso espiritual. Há amor pelo pecado: maledicência que dá regozijo, desejos recônditos, invejas dissimuladas – tudo bem agasalhado, usado na hora apropriada, fantasiado com várias fantasias, desde moralismo até pertinência religiosa.
Sim, eu sei: a vida do cristão é um reino em que Cristo é Rei com áreas de território conflagradas e rebeldes, pendentes de sujeição (aquilo que chamamos de santificação). Mas como podemos amar e alimentar, armar e fortalecer, aquele que é contra o Rei? Sim, talvez não haja uma luta da carne contra o Espirito, com áreas deflagradas em mim; sim, talvez o que haja sejam Zonas Francas para o pecado industriar seu mal. Nessas fronteiras que estabelecemos com o mundo, temos pontos de descaminhos, lugares pelos quais passam os pecados oficialmente interditos, às escondidas. Talvez não seja o Óleo do Espírito a nos ungir que nos faz brilhar, mas o verniz da aparência de moralidade.
Claro que os pecados habituais de longos anos deixaram marcas. As sinapses neurais, tantas vez praticadas, formam o leito de um rio pelo qual deslizam os pecados. Mas, uma vez descobertas essas nascentes, não teriam sido enterradas? Como ainda vamos buscar essas águas rotas e imundas, reabrindo o poço que o próprio Cristo enterrou com o Seu sangue? Como bebemos da panela em que há morte, ao invés de nela jogar a farinha do Corpo moído de Cristo?
Cristo é Rei em nós – só quem não é súdito dele não vai perseguir seus inimigos. Seus exércitos podem ser chamados; e Seu estandarte deve ser carregado. Sua Palavra é eficaz para decapitar o pecado que tanto amamos. Declaremos lealdade ao Nosso Rei, oremos a Ele, e – encarando de frente os pecados a que somos afeitos – obedeçamos ao poder da Sua palavra!

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