Trailer do filme Antes do Adeus
O filme “Antes do Adeus” é um daqueles filmes que representam a visão de felicidade dos dias modernos. Num mundo em que as coisas são como átomos caindo desordenadamente, sem nenhum padrão a as organizar, as experiências imediatas e as impressões dos sentidos são os únicos critérios para estabilização da vida.
Dois seres com experiências amorosas frustrantes e que nunca se conheceram se encontram no meio da madrugada de Nova Iorque e começam uma aventura para resolver o problema de um deles – o que resulta em várias situações inusitadas (e caóticas) na noite; eventos estabilizados – no roteiro – pela relação que se desenvolve entre os dois.
A frustração amorosa dos dois está vinculada à instituição do casamento e, no filme, podemos perceber o padrão da filosofia grega a reger o tema. Sim, pois a indústria do cinema, ao tratar do casamento, parece transitar apenas entre a filosofia grega e a prática dos romanos, tratando casamento como uma busca da felicidade (padrão grego) ou uma sociedade conjugal para acúmulo de comodidades durante a vida (padrão romano) e nunca socorrendo-se do padrão cristão, que vê no casamento um sacramento (como os católicos) ou uma aliança (para os evangélicos protestantes – uma aliança cujo modelo é a aliança de Cristo com Sua Igreja).
A profissão dos dois (descompromissada de estruturas maiores); o medo de ambos dos aborrecimentos (e desprazeres) decorrentes do confronto com as causas de seus problemas contrastam com outro “night movie”, sucesso dos anos 1980, chamado “Depois de Horas”. Neste, o caos é imposto pelo imponderável e por uma subcultura de um bairro “alternativo” e no final do filme a vida do personagem principal se reequilibra pela sua integração ao trabalho de uma grande corporação. Ambos os produtos culturais expressam momentos distintos (e de decadência) da cultura norte-americana. A escolha das ferramentas das sensações e dos sentidos para estabilizar a vida – desprezando padrões metafísicos e imateriais para organizar a existência – resultam não só num pontilhado de vida (não mais uma vida em linha contínua) composta de uma sequência de experiências não necessariamente ligadas entre si, mas num desfazimento cultural, refletido (e/ou refletindo) por ausência de compromisso com vocações e grupos sociais maiores (já que não o haverá tanto com a família), inclusive empresas e trabalhos formais.
A vida como um vídeo de propaganda é o seja eterno enquanto dure dessa geração. Como no final do filme é dito por alguém (aqui não vai spoiler) o ter vivido aquela experiência resolveu o problema por mostrar que se está vivo afetivamente. O padrão revitalizador aí é a experiência dos sentidos e das sensações; o quase (ou talvez até mesmo) adultério; o envolvimento emocional com quem tem compromisso de casamento com outro. Essa experiência se sobrepõe ao próprio significado subjacente de casamento na cultura protestante americana (o de aliança). E tudo a partir de um encontro fortuito na rua, entre um homem e uma mulher. As soluções existenciais oferecidas pela industria cultural americana são realmente muito baratas – mas de eficácia bastante duvidosa.

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