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Editor: Carlos HB de Castro Magalhães (MTb 0044864/RJ)

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471255.jpg-r_1920_1080-f_jpg-q_x-xxyxxO romeno Mircea Eliade escreveu em uma de suas obras que o apelo à figura da água, geralmente da chuva, nas representações humanas está ligada à ideia de ciclo, de reinício. O filme Um Domingo de Chuva (Like Sunday, Like Rain, de Frank Whaley, 2014) trata um pouco disto, mas para além da mentalidade mundana de uma vida em ciclos. Daí a inclusão do Domingo, dia do Senhor: o reinício como adjunto da redenção, e não vários reinícios, tema tão comum em nossa cultura pagã.

Um menino meio prodígio, de família abastada, com uma mãe distante e uma vida solitária e uma moça com problemas com o namorado, egressa de um lar desestruturado e lutando para viver são os personagens com suas circunstâncias  a representar a universalidade do tema trabalhado no filme: a existência que – explicita ou disfarçadamente – é caracterizada por um caos, vivida da maneira que não deveria ser vivida, sem perspectiva de realização e – como causa ou em razão dessas coisas – desengajada da existência. Homem ou mulher, rico ou pobre, bem educado ou com educação meramente regular são atingidos hoje por esse senso de desengajamento da vida, em que se trabalha apenas para viver, ou para alcançar alguma “commoditie” da glória ou realização mundana.

Uma das consequências desses vários ciclos é a perda das relações – a mãe ausente pelo trabalho; o pai ausente pelo falecimento; o namorado ausente pela imaturidade; a vocação ausente pela necessidade de sobrevivência e pelo esgotamento emocional e afetivo que consome todas as energias que lhe possibilitariam o desempenho.

Nesse contexto, entre a moça e o menino desenvolve-se a amizade; nesta encontra-se uma alivio para tantos vazios e também um engajamento existencial. Lares desfeitos, ensino a distância, trabalhos não duradouros – tudo isso, tão comum ao nosso tempo,  está representado na intensidade com que a amizade do filme é vivida. A linguagem dos tempos em que isso não era sim,  linguagem que expressa a beleza dos tempos em que as coisas não eram assim, também está no filme referenciada: em algum momento o menino fala que a música que praticava era “uma linguagem morta e que não tinha mais nenhum significado na cultura em que viviam”.  É a chuva, a água, que cai, evapora, se condensa e cai de novo: novos trabalhos, novos substitutos para a mãe ausente, novo namorado, marido ou esposa, nova linguagem, nova moda; o que passou não volta nem permanece, como um ciclo que se fecha.

O menino, porém, continua praticando a sua linguagem morta – reconhecida, pela moça, como um verdadeiro talento. Numa conversa a moça deixa escapar o talento que abandonou pelas circunstâncias da vida; aqui estão a cena e a frase mais importantes do filme, ditas pelo garoto Reggie: “esse é um talento que você tem e você tem obrigação de cuidar dele“.

Como muito acontece hoje ao fim de cursos e projetos, o fim da relação de trabalho da moça acaba por afastar os dois amigos.  Mas aquela linguagem que o garoto considerava morta tem o condão de ressuscitar o talento dado por Deus à moça e ambos, mesmo distantes – pelo exercício de seus dons, a despeito das vicissitudes –  engajam-se na existência, no mundo criado por Deus.

 

 


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Uma resposta para “Um domingo de chuva, uma redenção, um reinício”.

  1. Obrigado pela dica, verei esse filme 🙂

    Curtido por 1 pessoa

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