A prisão do parlamentar Daniel Silveira por seu grotesco discurso é uma restrição à retórica pois nessa inclui-se, também, a fala grotesca. Por ser prisão de um parlamentar é restrição mais aguda e brutal, pois a atividade parlamentar exige, para a discussão – inclusive para o exercício do DEVER de debate institucional que um parlamentar tem -, a liberdade de se proferir palavras, orações, imprecações e usos do vernáculo que não só tangenciam mas coincidem com todo tipo de qualificação, inclusive aquelas tidas por injuriosas, criminosas e outras tantas; isto pois o parlamento atua sobre juízos de fato, e não apenas de valor – e os fatos não se ressentem de moralidade e susceptibilidades.
É óbvio que o discurso de Silveira enquadra-se naquela lixeira da Retórica denominada Erística. Mas as falácias são riscos e elementos da discussão pública – elas provêm de mal intencionados, desinformados, mal formados e daquela enorme parcela da população (principalmente a que surgiu após os governos de esquerda do psdb/pt) que não consegue transformar indignação em discurso. Ela é o modo de expressão de parcela da população que vota. Além de constituir-se um dos primeiros degraus do pensamento em geral – inclusive o político – em que o indivíduo adere a símbolos (embora rudimentares e equivocados) que pensa representar seu descontentamento e ideário, o arsenal da dialética erística é necessário para a distinção entre o certo e o errado, assim como não pode haver heresia sem a doutrina dogmática, ou práticas heterodoxas sem aquelas reconhecidamente ortodoxas.
Afora o fato de que no itinerário de qualquer raciocínio – daí a imunidade restrita ao parlamentar, ante a importância dessa atividade – haver a possibilidade de falar-se o que fere, magoa e imputa mal.
O que fazer então? Deixar que os indignados que se identificam com os signos de fala do Daniel Silveira fiquem sem ter quem fale por eles no parlamento? Vai-se retirar dessa faixa da população a espada da fala para que ela viva sob a tentação de ter só a espada de metal para recorrer?


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