BLOG CASTRO MAGALHÃES

Editor: Carlos HB de Castro Magalhães (MTb 0044864/RJ)

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Escrevi o texto intitulado “O cristão brasileiro exilado em sua própria terra, na voz de Luciano Camargo” (que pode ser lido clicando AQUI) em que falo como Luciano Camargo interpretou “O Exilado”, hino evangélico escrito por Justus Henry Nelson, um missionário metodista que viveu em Belém no final do século 19 e início do século 20. Nelson, autor de muitos hinos presentes em diversos hinários evangélicos, foi preso por pregar contra o catolicismo, então a religião oficial do Brasil. A interpretação de Camargo destaca o conflito entre a visão protestante de Nelson, que valoriza a espiritualidade acima dos apelos sensuais da natureza, e a cultura brasileira influenciada pela Semana de Arte Moderna e Tropicália, que celebra a exuberância natural e emocional. Esse conflito cultural é refletido na literatura brasileira, como em “Canaã” de Graça Aranha, onde a natureza sensual é vista como um obstáculo à civilização. A interpretação de Camargo, vindo de um cantor sertanejo, simboliza a posição do cristão brasileiro como um “exilado” em uma cultura dominada por valores sensoriais e emocionais, ressaltando a relevância dos hinos evangélicos na manutenção dos valores espirituais em meio a um século de guerra cultural.

No último dia 31 de dezembro, a página de Facebook do Ministério Soren publicou uma postagem rememorando os cultos de vigília na virada do ano da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro ao tempo em que o Pastor João Filson Soren pastoreava aquela igreja. A postagem, com fotos e áudios da celebração, pode ser vista clicando AQUI. A postagem descreve como eram os cultos de vigília na Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro (PIBRJ), então liderada pelo Pastor Dr. João Filson Soren, na noite de 31 de dezembro. No interior da igreja, a congregação se reúne em profundo respeito e devoção, participando de batismos e da Ceia do Senhor. Ajoelhados, eles oram enquanto a meia-noite avança para o novo ano, recebendo a bênção pastoral. Este ambiente de reverência é marcado pela cantoria do hino “Sim, Deus é por nós!”, de autoria do Pr. Manuel Avelino de Souza, que expressa segurança em relação às batalhas espirituais e desafios da vida cotidiana.

Contrastando com a solenidade dentro da igreja, a cidade ao redor celebra o Ano Novo com fogos de artifício, criando um barulho festivo que se destaca contra o silêncio devocional da igreja e a oração serena e firme do Pastor Soren, acompanhada pelos fiéis ajoelhados no templo. Esta dicotomia entre o sagrado e o secular, entre a celebração espiritual e a festa pública sensual, é claramente sentida pelos participantes do culto, que continuam seus rituais apesar do ambiente ruidoso ao seu redor, cheios de fervor em sua adoração a Deus.

O hino “Sim, Deus é por nós!” não só reflete a fé e a confiança dos fiéis em Deus para superar adversidades, mas também serve como um contraponto espiritual ao tumulto do mundo exterior. A congregação, ao cantar este hino, reafirma sua crença na proteção divina e na vitória sobre as lutas da vida, mesmo quando cercados por celebrações sensuais, sensoriais e de forte apelo aos sentidos.

A postagem termina com um desejo de que a oração e a bênção recebidas nesta vigília se repitam na passagem para 2025, enfatizando a necessidade da presença do Espírito Santo nas igrejas e na vida dos fiéis. Este anseio por um novo ano marcado pela espiritualidade e pela proteção divina reflete um contraste com as festividades mundanas, destacando a busca por um sentido mais profundo e duradouro de paz e segurança em um contexto de celebração geralmente associado ao prazer e à distração temporária.

No mesmo dia em que a postagem acima referida foi feita, uma celebração mundana de ano novo escandalizou o Brasil. A cantora Anitta, em transmissão ao vivo pela maior emissora de televisão do Brasil (Globo), exibiu toda sua vulgaridade em chinelagem explícita, desconsiderando inclusive o horário e a audiência infanto-juvenil que a tudo assistia; segundo alguns veículos de comunicação, como o site Metrópoles, as partes mais imorais do show teriam sido censuradas.

No mesmo horário, outra emissora de televisão, o SBT, transmitiu o “Vira Brasil 2025 – Music Festival”, denominando-o de “a maior virada cristã do país”, organizado pela Primeira Igreja Batista da Lagoinha de Alphaville. O evento foi apresentado por Nadja Haddad e Yudi Tamashiro no Allianz Parque, em São Paulo, que recebeu mais de 40 mil pessoas em um ambiente de comunhão e fé. O festival contou com 15 atrações nacionais, incluindo pregadores e músicos, proporcionando momentos de louvor e mensagens inspiradoras, culminando com uma contagem regressiva e um show de fogos de artifício.

Após a meia-noite, a celebração continuou com o “Vira Brasil – USA”, destinado a brasileiros nos Estados Unidos, transmitido de Orlando com apresentações de André Valadão e Deive Leonardo. A CEO do SBT, Daniela Abravanel Beyruti, destacou a importância do evento, afirmando que a emissora sempre desejou uma virada de ano ao vivo. A colaboração com os organizadores do festival permitiu oferecer uma programação repleta de fé e música, tornando a virada de ano especial para o SBT e seus espectadores.

O evento, apesar do contraponto ao show da Anitta, sinaliza uma rendição dos evangélicos à primazia do sensorial, sensual e emocional como modo de conhecer a vida, abdicando, este grupo religioso, de sua herança espiritual e reduzindo a vida aos pressupostos morais (muitas vezes mimetizados em moralismo) da religião civil socialmente estabelecida. O ano novo dos evangélicos foi celebrado com estrobos, fogos e fumaça no palco; com acordes, batidas e letras que despertam sensações na maioria das vezes contrárias às genuinamente espirituais, e não mais com expressões afetivas de verdades espirituais e leitura da realidade bem compreendidas e apreendidas.

O mercado gospel com suas músicas comerciais é o maior alienador de valores espirituais dos cristãos. Por outro lado, todo esse fracasso da música evangélica contemporânea em manter-se como contraponto a uma cultura sensorial e degradante da cognição das pessoas, somente destaca o valor dos hinos e melodias dos hinos cristãos antigos, exemplificada na voz de Luciano Camargo. Letras elaboradas, melodias belas e não invasivas, verdadeiras e compreensivelmente contendo verdades espirituais – eis a riqueza da hinódia cristã brasileira. Que em 2025 os cristãos capturados pelo modo mundano de capturar a realidade – os “gospel” – sejam libertos dessas amarras pelo canto, nas igrejas, dos hinos cristãos antigos e outros, contemporâneos, mas que não se renderam à exuberância do sensorial.


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Uma resposta para “O cristão brasileiro capturado pelo sensualismo de sua própria terra”.

  1. […] Cristão Brasileiro Capturado pelo Sensualismo de Sua Própria Terra”, que você pode ler aqui, apresentamos uma gravação de um culto de passagem de ano da Primeira Igreja Batista do Rio de […]

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