Conforme publicado na Gazeta do Povo em 6 de junho de 2025, Mauro Iasi, sociólogo e historiador e ex-candidato à presidência pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 2014, influenciou o trabalho de conclusão de curso (TCC) da juíza Barbara de Lima Iseppi, que condenou o humorista Leo Lins a oito anos de prisão.
Iasi é conhecido por suas declarações controversas. Em junho de 2015, durante um congresso da Central Sindical Popular (Conlutas), ele parafraseou um poema do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, sugerindo um “bom paredão” para a direita brasileira, onde iriam “apagá-lo na frente de uma boa espingarda, com uma boa bala” e oferecer “de uma boa pá, uma boa cova”. Essa declaração gerou grande controvérsia e levou Jair Bolsonaro, então deputado federal, a protocolar uma representação acusando Iasi de “evidente prática de crime contra a segurança nacional e a ordem política e social”.
O TCC da juíza, intitulado “Direito, Mídia e Ideologia”, discute a influência dos meios de comunicação de massa nas sociedades, seu papel na formação da opinião e sua relação com o ordenamento jurídico e os sistemas de pensamento, tudo isso de acordo com uma interpretação marxista clássica. Segundo a comentarista política Anne Dias, esse histórico explica o viés da sentença contra Leo Lins. Dias afirma que o texto de 2006 de Iseppi apresenta uma “leitura do mundo dividido entre opressores e oprimidos, onde até a imprensa é vista como inimiga da justiça social”.
Dias também salienta que a visão da juíza reaparece claramente na sentença sobre Leo Lins , tratando o humor como uma ferramenta de manutenção das “hierarquias sociais” e dividindo a sociedade em sistemas de opressão como racismo, classismo e machismo. Ela conclui que isso “não é julgamento, é ativismo”.
A decisão da magistrada desconsiderou o conceito jurídico de animus jocandi (a intenção de fazer humor), que é capaz de excluir o crime de injúria. Para Anne Dias, a juíza afirma que piadas “politicamente incorretas” eram aceitas no passado, mas deixaram de ser porque o “clima social” mudou, sugerindo que o Judiciário deve se adaptar a essa nova “sensibilidade coletiva” , o que Dias chama de “cultura do cancelamento virando jurisprudência”.
A postura da juíza Barbara de Lima Iseppi, ao priorizar uma visão de “justiça social” e ativismo em sua sentença, alinha-se com a abordagem que valoriza a “substância moral” acima das normas democráticas e do animus jocandi, contribuindo para a discussão sobre as raízes teóricas das questões constitucionais brasileiras onde as interpretações judiciais podem se sobrepor às normas democráticas. Pela “moral substantiva revolucionária” privilegia-se o diálogo de diversas vozes dentro da cabeça do magistrado à suada, trabalhosa e digna discussão social que moveu constituintes e legisladores na construção da constituição e do arcabouço legal brasileiro. No final, é uma espécie de realismo jurídico, escola jurisprudencial própria dos sistemas totalitários.
O ativismo político de Iasi começou nos anos 1970, participando do movimento estudantil e de grupos de teatro amador que montavam peças de cunho político proibidas pelo regime militar. Ele filiou-se ao PCB em 1979, mas logo saiu para entrar no PT, do qual é considerado um dos fundadores. Iasi retornou ao PCB em 2004, alegando divergências com os petistas quanto à governabilidade no primeiro mandato de Lula como presidente. Em 2006, foi candidato a vice-governador de São Paulo na coligação encabeçada por Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), e em 2014, foi o candidato do PCB nas eleições presidenciais, propondo medidas como a reversão das privatizações e a estatização do transporte e logística, obtendo 0,05% dos votos.
Iasi frequentemente critica o conservadorismo em seus textos e aparições no YouTube, apontando-o como um instrumento a serviço dos interesses da classe dominante na sociedade capitalista. Em sua opinião, o conservadorismo é uma “expressão do senso comum” associada a características como nacionalismo extremo e irracionalismo apaixonado: o preconceito. Para ele, “todo fascista e a maioria dos conservadores têm que desembocar, mais cedo ou mais tarde, em algum tipo de supremacia que justifique sua ação”. Iasi despreza as estratégias políticas que buscam pactos para reformas graduais, pois, a longo prazo, abandonam a perspectiva da ruptura revolucionária e não enfrentam o conservadorismo. Para Mauro Iasi, “não basta mudar o sistema: é preciso derrubá-lo”.


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