BLOG CASTRO MAGALHÃES

Editor: Carlos HB de Castro Magalhães (MTb 0044864/RJ)

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Tudo começou numa tarde – talvez num final de semana ou num feriado. Eu e meu irmão estávamos na sala de estar do apartamento onde morávamos (eu devia ter uns 12 ou 13 anos) quando de repente fomos surpreendidos com um grito de minha irmã e ela saindo correndo de próximo à janela, onde estava, para o interior da sala. “Tem um homem pelado ali!”. Eu e meu irmão fomos para a janela e constatamos: um marmanjo de barba sentado numa poltrona no 5º andar do apartamento do prédio defronte se masturbava olhando para a nossa janela.  

Eu e meu irmão, indignados, fomos para o nosso quarto e pegamos nossas carabinas de pressão (cada um tinha uma) as carregamos com a munição de chumbinho e fomos para a janela do nosso próprio quarto, de onde também visualizávamos o sujeito.  

Não sei se os amigos leitores conhecem o bairro do Maracanã. O praticante da bronha residia no prédio de número 15 da rua Visconde de Itamaraty. Nós residíamos no oitavo andar do prédio da avenida Maracanã, numa apartamento de fundos – da nossa janela até o 15 há uma distância de 20 a 30 metros.   

Pois bem, com nossas carabinas carregadas nos posicionamos para alvejar o tarado. Ele sorria para nós – os dentes apareciam reluzentes contrastando com a barba – com um trejeito de cinismo e lascívia. A exibição das carabinas parece que não o comoveu. “Você dá o tiro de alerta, se ele continuar eu atiro na mão dele”. Dei um tiro no parapeito da janela dele – na parte de dentro. O sujeito parecia que nem era com ele! Na sequência – vendo que nada havia mudado na postura do malando – meu irmão atirou. O sujeito pulou da poltrona e vimos a bunda gorda dele guarnecida por uma cueca branca desaparecendo para dentro do apartamento.  

Na sequência, retornamos para a sala e falamos para nossa irmã que o sujeito não estava mais na janela. 

No dia seguinte, meu irmão me chamou à janela e disse: “olha lá”. Olhei pra a garagem aberta do 15 e estava o malandro com a mão enfaixada, um senhor (o pai dele) e o porteiro do prédio – eles apontavam para a nossa janela. “O pai dele deve vir reclamar com o papai”, disse meu irmão. Ficamos na nossa, pois achávamos que tínhamos feito a coisa certa.  

Não deu outra. Na parte da tarde eu estava na garagem do prédio quando Severino, o porteiro, me disse: “Gordinho, gordinho, o que vocês fizeram?” Eu falei para ele, já supondo do que se tratava: “atiramos num punheteiro, Severa!” Ele arregalou os olhos, deu uma risada e prosseguiu para os afazeres dele.  

Pouco depois chegaram – pela entrada da garagem – o marmanjo com a mão enfaixada, o pai dele e o porteiro do prédio dele. O Severino olhou para mim quando eles entraram. Eu virei para o Severino e disse: “Olha aí Severino, é o PUNHETEIRO DO QUINZE!!”. O porteiro do 15 e o Severino fizeram aquela cara de quem tá segurando o riso; o pai do tarado ficou com o rosto subitamente vermelho de vergonha – o que contrastava com os cabelos grisalhos. Ele olhou para o filho, o pegou pelo braço e deu meia volta.  

Não me recordo se meu pai ficou sabendo. Mas sei que nos dias seguintes eu era cumprimentado pelos frentistas do posto de gasolina, pelo pessoal da banca de jornal e pelos porteiro daquela região. Fui entender anos depois o motivo, quando conheci o conceito de Aldir Blanc sobre a Tijuca Profunda: taxistas, porteiros e jornaleiros constituem uma rede que troca informações sobre as coisas que acontecem no dia a dia que os moradores dos apartamentos (por seu isolamento) não sabem. 

Nem eu nem meu irmão nos perdemos. Ele é pastor batista e oficial de Marinha; eu presbítero da Igreja Presbiteriana e advogado.  

Depois de pouquíssimos meses o tarado e sua família se mudaram. Não me recordo de tê-lo visto mais, mas uma vez tive a impressão de que ele estava numa igreja que eu visitei em Vila Isabel.  


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