BLOG CASTRO MAGALHÃES

Editor: Carlos HB de Castro Magalhães (MTb 0044864/RJ)

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Era o ano de preparação para o vestibular, e minha rotina era a seguinte: acordava às 5h30, tomava banho e café, e depois ia para o Colégio Militar, onde tinha que estar às 6h30 para a formatura diária na Cavalaria. Às 7h começavam as aulas, que duravam até as 13h20. Chegava em casa às 13h35, almoçava, tirava um cochilo até as 15h e, logo depois, retomava os estudos, que se estendiam até as 22h, com uma pausa de apenas 30 minutos para o jantar, por volta das 19h. Às 22h, ou por aí, o cachorro Duque, um fox terrier que tínhamos em casa, entrava no meu quarto, se postava ao lado da minha escrivaninha e me lembrava que era hora de passear com ele.

Sair com ele era um momento de relaxamento e distensão. Caminhávamos pelas ruas do Maracanã: Visconde de Itamaraty, Isidro de Figueiredo, Paula e Souza, Eurico Rabelo. Era um intervalo ameno, onde minha mente começava a se dispersar. Meus sentidos se conectavam com o ambiente, notando os cheiros e sons. Na Eurico Rabelo, entre Paula e Souza e a Maracanã, havia sempre uns caminhões parados, carregados de abacaxis para as feiras do Rio. O aroma agradável me fazia seguir por ali. Os caminhoneiros dormiam na boleia de seus veículos, e eu via que eles usavam o orelhão da esquina para ligar — em 1988, celulares ainda não existiam.

Certa noite, enquanto passeava com o Duque, ele resolveu marcar território no poste do orelhão. Enquanto ele fazia suas necessidades, o telefone tocou. No segundo toque, uma ideia brilhante me veio à mente: eu tinha visto um caminhoneiro se despedindo de alguém, provavelmente sua esposa. Peguei o telefone e atendi como se fosse um bordel: “Bordel Maracanã, boa noite!”. Silêncio. Repeti: “Bordel Maracanã, boa noite!”. Uma voz feminina indignada perguntou: “De onde você fala?”, ao que respondi: “Bordel Maracanã, senhora”. Ela, ainda mais indignada, recitou o número do orelhão, e eu confirmei. Depois de um barulho, a ligação foi interrompida.

Desliguei e continuei meu caminho: rua Luiz Gama até General Canabarro, descendo pela São Francisco Xavier, passando pela Paula e Souza e descendo a Eurico Rabelo até a Maracanã. Na volta, na esquina, ouvi o caminhoneiro Robertson abençoado: “Que bordel, que coisa, mulher, eu estava no banheiro do posto de gasolina!” e a discussão se prolongava, pedindo-lhe para se calmar. Apressei o passo de volta para casa. Aos 17 anos, essa foi uma das minhas travessuras.

Decorridos muitos anos, veio o arrependimento por esse ato. Durante muito tempo, eu me orgulhava dessa sagacidade e oportunidade satírica. Nunca havia me colocado no lugar do caminhoneiro ou de sua esposa. Um dia, uma palavra incomum do versículo 4 do capítulo 5 da Carta de Paulo aos Efésios chamou minha atenção: chocarrice.

Meu pai sempre me alertou sobre o deboche excessivo, a chocarrice. Eu sabia o que era, mas seu significado profundo ainda não tinha me tocado. É impressionante como, mesmo instruídos, podemos ignorar certas coisas. Foi em uma devocional, refletindo sobre memórias de orgulho, que enquadrei aquele ato como chocarrice, começando a entender realmente o que fiz. É uma obra do Espírito Santo nos fazer reconhecer e sentir nossos pecados.

Paulo usa a palavra “eutrapelia” para chocarrice, que significa “bem elaborar”, uma conversa rápida e sagaz, humorística, mas, no contexto da cultura grega, humor obsceno.

É um pecado típico do carioca. No convívio carioca, os mais engraçados muitas vezes são os mais valorizados. Há quem ache que essas pessoas são inteligentes pela rapidez com que criam narrativas humorísticas obscenas. Devemos estar cientes de que nossa cultura incentiva isso. Somos ensinados a sermos sacis-pererês, pregando peças, e, no ambiente sensual do Rio, essas brincadeiras costumam ser imorais ou pornográficas.

Raciocínio rápido para o humor obsceno não é virtude, é pecado. Desvalorizamos situações e compromissos importantes para as pessoas. Ao fazer isso, ofendemos a Deus, degradando a inteligência que Ele nos deu.


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