Inimigos, todos, quando as cicatrizes
Se fazem olhos, ouvidos, em vigília;
Os descaminhos do passado, frágeis,
Tornam-se bússola, guia da trilha.
O sangue de ontem, seco, em essência,
Padrão que marca a dor da existência.
Ó velho desafeto, quem te deu
O poder de mascarar o que hoje vejo?
Com teu malfazejo, roto e tão vil,
Vestes de gesto o valor que é sutil,
Transformas em sombra o fazer dos de agora,
Com ecos que pesam, que ferem, que aflora.
Não sou mais criança, de ingênua verdade,
Que ignora o que fere, que esquece a idade.
Mas tampouco sou velho, louco ou rabugento,
Carregando no peito um amargo lamento.
Há um bálsamo doce, que os olhos fechando,
Tapa os ouvidos do grito cortando.
Das cicatrizes que espiam, que ouvem,
Um remédio que as silencia, que as consomem.
Feito da raiz de Jessé, puro e vivo,
Cura a alma, liberta, faz o coração cativo.


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