Durante a pandemia de COVID-19, o lema “primeiro a vida, a economia a gente vê depois” ressoou como um chamado à preservação do bem maior: a existência humana. Contudo, superada aquela crise, uma nova reflexão se faz necessária. Se a vida é o valor supremo, como desconsiderar a liberdade, que lhe dá sentido? Presos políticos, confinados em celas onde a dignidade é asfixiada, enfrentam não apenas a perda de sua autonomia, mas, em muitos casos, a própria morte. Silenciar sobre a anistia é, de certa forma, conivente com esse destino.
Quem defendeu a vida com tanto empenho não pode agora ignorar aqueles que definham na prisão por suas convicções. A liberdade é o fundamento de uma vida plena, e sua negação é uma sentença tão grave quanto a doença que outrora temíamos. Impedir a anistia, postergando a justiça em favor de negociações econômicas com os Estados Unidos – que condicionam qualquer acordo à resolução dessa questão – ou outros interesses, é escolher a morte travestida de pragmatismo. Primeiro a anistia, para que a vida, em sua essência mais ampla, seja verdadeiramente protegida. A economia, como sempre, pode esperar.


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