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Editor: Carlos HB de Castro Magalhães (MTb 0044864/RJ)

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Por Grok, para o blog Castro Magalhães

A música Jerusalem, imortalizada pela interpretação de Emerson, Lake & Palmer (ELP) no álbum Brain Salad Surgery (1973), é uma obra que transcende tempo e gênero, conectando a poesia mística de William Blake, a melodia solene de Hubert Parry e a ousadia do rock progressivo. Este artigo explora os contextos históricos, culturais e artísticos da canção, seus autores originais, seus intérpretes modernos e sua relevância duradoura, respondendo também às questões sobre seu lugar no hinário anglicano, seu caráter patriótico e a relação de Blake com o antinomianismo.

O Poema de William Blake: Uma Visão Mística

A origem de Jerusalem está no prefácio do poema épico Milton: A Poem (1804–1810), escrito por William Blake (1757–1827), um dos maiores poetas e artistas do Romantismo inglês. Blake, nascido em Londres, era um visionário que combinava poesia, gravura e pintura para explorar temas de espiritualidade, liberdade e crítica social. Sua obra reflete uma imaginação única, criando mitologias próprias, como os personagens Los e Urizen, para abordar a luta contra a opressão e a busca pela redenção espiritual.

O poema Jerusalem, também conhecido como And Did Those Feet in Ancient Time, questiona se Jesus teria caminhado pela “Inglaterra verde e aprazível” e sonha com a construção de uma “Nova Jerusalém” em meio às “fábricas satânicas” da Revolução Industrial. Versos como “And did those feet in ancient time / Walk upon England’s mountains green?” e “I will not cease from mental fight” evocam um idealismo espiritual e social, propondo uma transformação moral e criativa da sociedade. Blake via a imaginação como uma força divina, capaz de superar as restrições impostas por instituições, segundo ele, opressivas, como a Igreja e o Estado.

Blake e o Antinomianismo

Blake é frequentemente associado ao antinomianismo, a crença herética de que a fé ou a graça divina aboliram os cristãos de obediência às leis morais, especialmente os Dez Mandamentos e o Velho Testamento. Embora não fosse filiado a seitas antinomianas formais, como os ranters do século XVII, Blake rejeitava a autoridade rígida da Igreja Anglicana e criticava o que chamava de moralismo opressivo. Em obras como The Marriage of Heaven and Hell, ele desafia dicotomias de bem e mal, valorizando a energia criativa e a liberdade espiritual. Sua visão em Jerusalem reflete essa perspectiva, propondo uma espiritualidade interiorizada que transcende dogmas, alinhando-se com ideias antinomianas, mas de forma única e pessoal.

Hubert Parry: Um Hino para a Inglaterra

Em 1916, o compositor inglês Hubert Parry (1848–1918) transformou o poema de Blake em um hino, criando a melodia que hoje conhecemos como Jerusalem. Parry, um renomado compositor de música coral e orquestral, foi encarregado de compor a peça para um evento da campanha “Fight for Right”, que buscava levantar o moral britânico durante a Primeira Guerra Mundial. Sua melodia, majestosa e emocional, deu ao texto de Blake uma nova vida, tornando-o acessível e reverenciado.

A versão de Parry rapidamente se tornou um símbolo cultural. Incluída em hinários anglicanos, como o Hymns Ancient and Modern e o English Hymnal, Jerusalem é cantada em serviços religiosos, casamentos e eventos nacionais, como o Last Night of the Proms. Sua presença nos hinários reflete sua aceitação como um hino espiritual, mas seu uso em contextos seculares, como comícios políticos e eventos esportivos, consolidou seu status como um hino patriótico não oficial da Inglaterra. A música evoca um senso de identidade nacional, embora a visão de Blake seja mais universal, sonhando com uma transformação espiritual que vai além do nacionalismo.

Emerson, Lake & Palmer: Rock Progressivo e Rebeldia

Em 1973, o trio britânico Emerson, Lake & Palmer (ELP), formado por Keith Emerson (teclados), Greg Lake (vocais, baixo, guitarra) e Carl Palmer (bateria, percussão), reimaginou Jerusalem como a faixa de abertura do álbum Brain Salad Surgery. Conhecidos por sua fusão de rock, música clássica e experimentalismo, o ELP trouxe uma abordagem ousada ao hino, transformando-o em uma peça de rock progressivo. A interpretação, disponível no vídeo do YouTube (https://youtu.be/T25jOOrXvsE?feature=shared), destaca a inovação do trio, com o uso pioneiro do sintetizador Moog Apollo, um protótipo polifônico, combinado ao órgão Hammond e à percussão dinâmica.

A voz emotiva de Greg Lake preserva a essência espiritual do texto, enquanto os arranjos de Keith Emerson adicionam uma grandiosidade moderna, equilibrando reverência e rebeldia. A escolha de abrir o álbum com Jerusalem foi controversa: a BBC baniu a música das rádios, considerando-a uma apropriação irreverente de um hino sagrado. Greg Lake defendeu a versão, argumentando que foi feita com respeito, buscando celebrar a relevância cultural do hino. A ousadia do ELP reflete o espírito de Blake, que também desafiava convenções, tornando a interpretação uma homenagem à visão transformadora do poeta.

Contextos e Significado Cultural

Jerusalem é uma obra de múltiplas camadas. No contexto de Blake, é um chamado à revolução espiritual e social, criticando as injustiças da Inglaterra industrial. Na versão de Parry, torna-se um hino de união e esperança, adotado tanto pela Igreja Anglicana quanto pela cultura popular britânica. Sua presença em hinários anglicanos reforça seu papel religioso, enquanto seu uso em eventos como o Last Night of the Proms e comícios políticos destaca seu caráter patriótico. No entanto, o patriotismo de Jerusalem é ambíguo: para alguns, é uma celebração da Inglaterra; para outros, é um apelo universal por justiça e renovação.

A versão do ELP amplia esse alcance, levando o hino a um público global e jovem dos anos 1970, imerso na contracultura e no rock progressivo. A música mantém a essência visionária de Blake, mas a recontextualiza como um manifesto artístico, desafiando normas musicais e culturais. A proibição pela BBC apenas aumentou seu impacto, reforçando a reputação do ELP como uma banda inovadora e provocadora.

Histórico e Legado

Desde sua criação, Jerusalem atravessou contextos históricos distintos. O poema de Blake surgiu em um momento de transformação social, durante a Revolução Industrial. A melodia de Parry nasceu em meio à Primeira Guerra Mundial, respondendo a um desejo de unidade nacional. A interpretação do ELP, lançada no auge do rock progressivo, reflete a experimentação e o questionamento dos anos 1970. Cada iteração da música mantém sua essência: a busca por um ideal maior, seja espiritual, social ou artístico.

Hoje, Jerusalem permanece um símbolo cultural. É cantada em estádios, igrejas e festivais, evocando tanto o orgulho inglês quanto uma aspiração universal por transformação. A versão do ELP, em particular, continua a inspirar fãs de rock progressivo, mostrando como a música pode unir passado e presente, clássico e moderno.

Conclusão

Jerusalem é mais do que um hino; é uma ponte entre a poesia visionária de William Blake, a melodia atemporal de Hubert Parry e a inovação audaciosa de Emerson, Lake & Palmer. Seja em hinários anglicanos, eventos patrióticos ou palcos de rock, a música ressoa com um chamado à imaginação, à luta e à esperança. Blake, com sua visão antinomiana e revolucionária, desafiou as convenções de seu tempo; Parry deu a essa visão uma voz universal; e o ELP a levou a novos horizontes.


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