Edgar Morin, um filósofo da educação francês, quase centenário, gosta de expandir a definição biológica do ser humano. Para ele, o homem não é apenas o homo sapiens, mas o homo sapiens sapiens demens. Algo como “o homem que sabe, sabe que sabe e também é demente”, cheio de incongruências e coisas não racionais. A demência de que ele fala já estava na antropologia bíblica, que sempre afirmou que o homem é louco em seu coração, seja nos discursos bíblicos, seja nos próprios personagens do texto sagrado, como Sansão, Salomão senil, Davi, entre outros.
A Bíblia não apenas fala de nossa loucura, mas também nos aponta a provisão de Deus para lidarmos com ela enquanto não alcançamos aquele estado de perfeição prometido aos ressurretos em Cristo. Em Romanos 8.26, diz-se que o Espírito intercede por nós, pois não sabemos orar como convém. Ele faz isso quando não temos palavras – e também o faz sem palavras – para expressar anseios presentes, levando esses anseios a Deus.
Esses anseios não são meros desejos, mas aquilo que não conseguimos concatenar ou explicar: nossas irracionalidades, contradições, desejos auto-opostos, afeições inexplicáveis e danosas, enfim, nossas demências.
Atitudes que tomamos, por mais simples que sejam, mas que não compreendemos por que as tomamos; palavras que dizemos sem entender, provenientes das “esquizofrenias” de nosso ser. Deus sonda nosso coração e vê nossas demências; Ele nos alerta pelo Seu Espírito, dado por Cristo àqueles a quem o Pai entregou a Cristo. Esse Espírito interage entre as “fendas” do nosso ser, conectando vazios, contradições e oposições ao levá-los a Deus.
O devocional do demente consiste na meditação sobre as próprias incongruências e contradições, sobre as coisas em nós que não conseguimos explicar, e na petição a Deus pela intercessão do Seu Espírito em nós. E, assim, descansar nessa obra dEle em nós.


Deixe um comentário