O homem neo-testamentário é sempre igual a outro homem neo-testamentário: eles são iguais, sentem como iguais e vivem como iguais. A referência dessa igualdade é a obra redentora de Cristo, e o instrumento que a implementa é a crença no mesmo valor perante Ele. Ricos, pobres, escravos, livres, judeus, gregos — todos se sentavam no mesmo banco, comiam do mesmo pão e bebiam do mesmo cálice. Embora chamados neo-testamentários, eles precedem em muito o Novo Testamento, mas sua essência já apontava para ele. No livro de Êxodo, Moisés fala deles como “a mistura de todo tipo de gente” (Êxodo 12.38) que foi liberta com os hebreus da escravidão do Faraó. Eles são a igreja atemporal, o bonde da salvação através dos tempos.
Conheci-os primeiro por um testemunho familiar. Meu pai, guarda-marinha, tinha um grande amigo, o pastor Vilarindo Lima. Ele conheceu o sargento Vilarindo, alfaiate da Marinha, que lhe costurou o primeiro uniforme. Meu pai, batista, e Vilarindo, congregacional, logo desenvolveram a amizade típica dos cristãos, que harmoniza hierarquias sociais com a fraternidade de quem pertence ao mesmo povo de Deus, como ensinou o apóstolo Paulo em suas cartas.
Já capitão, meu pai recebia em nossa casa o agora pastor Vilarindo, sargento aposentado da Marinha, para orar, ler a Bíblia e jantar conosco. Nessas ocasiões, meu pai, então capitão de corveta, cedia-lhe a cabeceira da mesa, reconhecendo-o como pastor de nossa família.
Esse era um convívio cristão genuíno. Meu pai relatava um episódio ocorrido antes da aposentadoria do sargento Vilarindo. Durante uma diligência no Estado-Maior das Forças Armadas, ele encontrou Vilarindo ajoelhado no chão, costurando carpetes. Veterano e de velha guarda, Vilarindo estava sendo submetido a essa tarefa humilhante. Meu pai logo entendeu o motivo: na corporação, alguns sabiam da amizade de Vilarindo com o almirante Aragão, aliado de João Goulart, o Jango. Embora Aragão tivesse interesse pelo Evangelho, parece que se deixou levar mais pelo espírito revolucionário de Jango. Meu pai, jovem tenente na época de 1964, era um castelista ativo. Na turbulência daqueles tempos, os conflitos políticos não prevaleceram sobre o espírito cristão de Vilarindo e Adriano. Meu pai sempre viu Vilarindo como um mentor e, anos depois, foi ordenado por ele ao pastorado, tornando-se seu auxiliar. Quando meu pai pastoreou uma igreja no Rio de Janeiro por 20 anos, convidou Vilarindo inúmeras vezes para pregar.
Uma das aplicações pastorais mais práticas do que significa ser um homem neo-testamentário está na Carta de Paulo a Filemom. A amizade cristã entre meu pai e Vilarindo me ajudou a compreender isso. O devocional do homem neo-testamentário consiste em singeleza de coração, comunhão genuína e uma atitude desinteressada, focada somente em Cristo e Seu Reino. Não há turbulência histórica que a desfaça. Os verdadeiros cristãos estão todos juntos e misturados.


Deixe um comentário