A Brahma Kumaris, um movimento espiritual fundado em 1936 na Índia por Lekhraj Kripalani, chegou ao Brasil em 1979 pelas mãos do guru anglo-australiano Ken O’Donnell, conhecido como Hare Baba. Com uma trajetória de 46 anos no país, a organização estabeleceu uma rede de centros espirituais, com destaque para o “Lighthouse” em Perdizes, São Paulo, e expandiu sua presença em cidades como Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte. Conhecida por sua prática de meditação Raja Yoga, que promove a conexão com a alma e a transformação pessoal, a Brahma Kumaris também desperta debates por suas conexões políticas, visão globalista e concepção única de divindade, que mescla traços pessoais e impessoais. Neste artigo, exploramos sua atuação no Brasil, as personalidades políticas envolvidas e o impacto de sua agenda espiritual no contexto global.
A Natureza da Divindade: Pessoal e Impessoal
No cerne da doutrina da Brahma Kumaris está a figura de Deus, chamado Shiva Baba, a Suprema Alma. Ele é concebido como um ponto de luz incorpóreo, eterno e consciente, que transcende forma física ou representações antropomórficas, características comuns em divindades hindus tradicionais. Essa natureza impessoal – um ser além do tempo e da matéria, acessível a todas as culturas – reflete uma visão universalista, alinhada ao objetivo do movimento de unir a humanidade por meio da espiritualidade. Ao mesmo tempo, Shiva Baba é profundamente pessoal: um pai espiritual amoroso, sábio e guia, com quem os adeptos desenvolvem uma relação íntima durante a meditação Raja Yoga. Essa prática, realizada com olhos abertos e integrada ao cotidiano, busca fortalecer a conexão direta com Deus, promovendo paz interior e clareza nas decisões diárias. Os “murlis”, ensinamentos diários considerados revelações divinas, reforçam essa relação, apresentando Shiva como uma presença consciente que orienta cada alma.
Essa dualidade entre o pessoal e o impessoal permite que a Brahma Kumaris se apresente como uma ponte entre tradições espirituais orientais e ocidentais, atraindo seguidores de diversas origens no Brasil, onde a prática é oferecida gratuitamente em centros e via plataformas digitais, como o canal Brahma Kumaris Brasil no YouTube.
Presença no Brasil e Personalidades Políticas
No Brasil, a Brahma Kumaris ganhou notoriedade não apenas por suas práticas espirituais, mas também pela associação com figuras políticas de peso. Entre elas, destaca-se Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que pratica meditação e participa de retiros anuais do movimento. Em outubro de 2025, Barroso planeja um retiro de uma semana em Monte Abu, na Índia, para refletir sobre sua possível aposentadoria do STF, evidenciando a influência da meditação em sua vida pessoal e profissional. Outra figura proeminente é Gleisi Hoffmann, ex-diretora da Itaipu Binacional (2003-2006) e atual presidente do PT, que aderiu ao movimento durante sua gestão em Itaipu, adotando vegetarianismo, celibato e viagens anuais à Índia. Em 2014, Hoffmann declarou que a Brahma Kumaris “mudou significativamente sua vida”, ajudando-a a enfrentar crises políticas, como as acusações no escândalo do Petrolão. Ricardo Skaf, ex-presidente da Fiesp, também é um nome notável, atuando como facilitador de workshops sobre virtudes e liderança nos centros brasileiros.
Essas conexões com políticos de alto escalão geram debates. Críticos, especialmente em redes sociais como o X, questionam se a espiritualidade da Brahma Kumaris pode influenciar decisões públicas, levantando preocupações sobre a separação entre Estado e religião. Embora o movimento se declare apolítico, sua proximidade com líderes levanta suspeitas de uma agenda mais ampla.
Caráter Globalista e Laços com a ONU
A Brahma Kumaris é frequentemente associada a uma visão globalista, reforçada por sua afiliação com a Organização das Nações Unidas (ONU) desde 1977. Como ONG, possui status consultivo no Conselho Econômico e Social (ECOSOC) desde 1983, colabora com a UNICEF (1987) e a UNFCCC (2009), participando de fóruns sobre paz, sustentabilidade e direitos das mulheres. No Brasil, isso se traduz em iniciativas como projetos de agricultura orgânica, eventos ecológicos e meditações coletivas pela paz mundial, como as realizadas em 2024 em apoio às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. A organização promove uma visão de unidade global, onde a transformação individual por meio da meditação Raja Yoga é vista como a chave para a renovação da sociedade, alinhando-se a agendas da ONU para um mundo mais harmonioso e sustentável.
Essa postura globalista, porém, não está isenta de críticas. Alguns detratores, incluindo vozes em fóruns online, acusam o movimento de usar sua influência internacional para promover uma espiritualidade que, embora aparentemente inclusiva, pode mascarar práticas de controle psicológico ou alinhamentos ideológicos sutis, especialmente em contextos políticos sensíveis como o Brasil.
Controvérsias e Percepções de "Seita"
Apesar de seu discurso de paz e transformação, a Brahma Kumaris enfrenta acusações de ser uma “seita” devido a práticas como o incentivo ao celibato (mesmo para casados), previsões apocalípticas não concretizadas (como o fim do mundo em 1976 e 1987-2008) e relatos de isolamento familiar. No Brasil, essas críticas são menos documentadas, mas ecoam em debates sobre a influência do grupo em figuras públicas. Um estudo da USP de 2018 analisou suas práticas discursivas no país, apontando tensões entre o universalismo espiritual e o pluralismo moderno, mas sem evidências de abusos graves localmente.
Conclusão
A Brahma Kumaris no Brasil é um movimento espiritual que combina meditação acessível, valores de igualdade e uma visão de Deus que une o pessoal (um guia amoroso) ao impessoal (uma energia universal). Sua presença, marcada por centros ativos e eventos como palestras de BK Shivani no Memorial da América Latina, atrai tanto seguidores em busca de paz interior quanto críticas por suas conexões políticas e caráter globalista. Figuras como Barroso, Hoffmann e Skaf ilustram sua penetração em esferas de poder, enquanto os laços com a ONU reforçam sua agenda de transformação global. No entanto, a linha entre espiritualidade transformadora e influência controversa permanece tênue, alimentando reflexões sobre o papel da Brahma Kumaris no Brasil contemporâneo.
Este artigo foi escrito para o blog Castro Magalhães (castromagalhaes.blog), com informações baseadas em fontes públicas e relatos disponíveis até outubro de 2025.


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