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Um dos mais curiosos dados do livro de Jó é a nominação das filhas deste ao final – mantendo-se na obscuridade o nome dos irmãos delas – bem como a destinação de herança para elas, junto com estes. Como parte da restauração de sua vida – após profunda e dolorosa miséria e sofrimento – Jó enriquece e tem 7 filhos e 3 filhas, estas as mais belas do mundo de então. Os nomes delas são declinados no texto bíblico, e significam “Luz do Dia”, “Doce Fragrância” e a terceira é o nome de uma cor usada pelas mulheres para a pintura das pálpebras.
O livro de Jó é um livro sobre Justificação pela Fé. Nas cortes celestiais decide-se o sofrimento de Jó e este, sem a menor noção do que lá ocorre, mantém-se fiel a Deus e crente na própria integridade, não por si, mas pela fé de que há, perante Deus, um Redentor que é por ele. Durante todo o sofrimento Jó sofre acusações e calúnias de seus amigos e desprezo pela própria esposa, respondendo a tudo com discursos que – embora exibam perplexidade – não abrem mão da crença de que é justo e íntegro perante Deus, não por si, mas por saber que havia, diante de Deus, um Redentor que vivia, e era por ele. No final, Deus aparece a ele e seus amigos, e valida a fé de Jó, afastando as acusações de seus amigos e mandando que estes pedissem perdão a Jó e este orasse por seus amigos.
Após isso, a sorte de Jó é restaurada, sua riqueza é devolvida em dobro e ele tem filhos e filhas. Só estas, porém, são nominadas e, além disso, recebem herança – algo muito improvável no Oriente da Idade do Bronze. É impossível, então, não nos determos em narrativa tão incomum.
A nominação das filhas de Jó serve para efeitos de verificação histórica do texto – como um registro certificador ao lado da localização geográfica em que ocorre, vinculado ao fato incomum de estabelecer herança para mulheres em plena Idade do Bronze. O significado dos nomes, porém, bem como a localização do registro após a restauração de Jó, têm uma função indicativa do desdobramento da corretude de vida de Jó (a crença na Justificação pela Fé) após tão profundo e duro sofrimento, perversas acusações e doloroso abandono. É a alegria da salvação e o amor pela vida, expressos no nome das filhas, e a distribuição gratulatória de justiça de quem justiça recebeu.
É que um dos frutos da Justificação pela Fé é fazer justiça – não num senso igualitário, veneno da imanência – mas num senso de equidade, que só é possível aos que se apegam e confiam numa realidade transcendente, que tudo gere e governa, ainda que não o possamos ver. Quem tem um Redentor consequentemente haverá de ter um senso de equidade gratulatória.


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