Pouco se percebe – quanto à tragédia de Realengo – que falharam os mecanismos informais de controle social. Isso decorre do esgarçamento das instituições sociais que em outros tempos bem desempenhariam seu papel e interviriam sobre o criminoso que fez aquele massacre.
A publicização dos deveres sociais e a exacerbação do individualismo são as tendências que se correlacionam com o fracasso do controle social sobre Wellington Oliveira. Os mecanismos informais de controle social – escola, família, vizinhança – não funcionaram pois o brasileiro cada vez mais transfere funções sociais para o Estado e se torna individualista.
A família tem função de integração e os vínculos famíliares são os primeiros a evitar que o evento criminoso seja praticado por um de seus membros. No caso, a carta-nota de suicídio de Wellington indica uma tensão familiar, bem como o seu histórico de filho adotivo (rejeitado pela mãe biológica) não foi superado pela convivência familiar decorrente da adoção. Morta a mãe, manteve-se o Wellington desintegrado da família. De igual modo, a vizinhança não o entrosou. Tais vinculos relacionais eram fundamentais para detecção dos distúrbios mentais dele e promoção da intervenção sobre a sua pessoa.
A escola também falhou, pois a escola deveria ser um lugar de construção de relacionamentos que se levam para a vida toda, e não simples local de distribuição do conhecimento. A entrevista com as autoridades de educação e professores do Wellington são um epítome do êxito burocrático! Exibe-se o histórico escolar dele, diz-se de suas boas notas, mas em nenhum momento viu-se relato de um movimento institucional para contornar seus problemas de relacionamento.
Não há como fugir disso: a primeira barreira contra o fenômeno criminoso é a própria sociedade, e não o Estado. É ela, no desempenho de suas formas sociais estáveis básicas (família, vizinhança, igreja, etc…) que detecta, trata e evita milhões de delitos diariamente. Mas a consciência disso perde-se paulatinamente, à medida em que se transfere para o Estado todo o dever de segurança e ensimesma-se num individualismo egoísta.
Carlos Henrique Bitencourt de Castro Magalhães

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