BLOG CASTRO MAGALHÃES

Editor: Carlos HB de Castro Magalhães (MTb 0044864/RJ)

Religião, Direito, Política, Cultura Pop e Sociedade

Editor: Carlos HB de Castro Magalhães, Registro Jornalista MTb 0044864/RJ

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A religião é inerente ao ser humano e surge de tempos imemoriais. Nossas três religiões monoteístas dominantes vêm de religiões tribais – judeus e árabes do deserto – e têm estrutura tribal: a inclusão na religião é a inclusão no próprio povo. Dessa realidade – mediada sempre por um sacerdote em sua fundação – é que surgiram os conceitos de hospitalidade (a tribo dava acolhidas aos solitários que encontrava no caminho), vingança de sangue (a tribo vingava aqueles seus que eram feridos, ou promovia o asilo em certos casos culposos) e inclusão social (através da adesão à fé da tribo o indivíduo sem vínculo de sangue com ela era considerado um seu integrante). Essa é uma tosca síntese, mas suficiente para a reflexão que se pretende aqui fazer.

Essas instituições sem dúvida tornaram-se ‘commodities’ para sacerdotes, que viam no desempenho dessa mediação uma possibilidade de vantagem pessoal. Assim é que seja no Pentateuco dos Judeus, na Bíblia dos Cristãos, no Alcorão dos muçulmanos, ou em registros arqueológicos dos cananeus dos tempos bíblicos encontramos referência àquele que seria o primeiro sacerdote bandido da história – o que trai a sua função sacerdotal (e porque não dizer política, vez que ele cumpria esse papel) para benefício pessoal. A figura de Balaão incorporou-se ao inconsciente coletivo como o sacerdote abjeto; embora seu nome seja pouco lembrado, seus traços de caráter se repetem em todo sacerdote que escandaliza e é tido como explorador do povo. Quando esses traços se completam, justificam no inconsciente coletivo o cessamento ou declínio de sua atividade religiosa.

Os cinco primeiros livros da Bíblia registram que muitos sacerdotes pagãos se incorporaram a Israel – e alguns deles, como o sogro de Moisés – estabeleceram regras jurídicas que se incorporaram à Torá antes mesmo dos Dez Mandamentos. O povo respeitava os sacerdotes, judeus ou pagãos, pois para além do conteúdo de sua fé eram garantia de estabilidade na vida dos povos dos desertos. Balaão não agiu assim. Pago pelos inimigos de Israel – temerosos e amedrontados das inúmeras vitórias que esse povo conquistou – tentou proferir profecias para destruí-los. Não conseguindo isso, tratou de buscar uma falha naquela muralha civilizacional em que se transformava o povo de Israel. Encontrou uma brecha na imoralidade sexual. Procurou mulheres – lindas – entre os povos de Moabe e de Midian e as pagou para seduzirem a juventude de Israel. Os jovens de Israel se apaixonaram por elas e abandonaram a religião de Israel; quase surgiu uma guerra civil, e um judeu prosélito (um egípcio chamado Finéias) precisou matar um dos príncipes de Israel que havia sido seduzido pelas prostitutas pagas por Balaão, conforme relata a História dos Judeus de Flávio Josefo.

É isso, caro leitor! Dinheiro, manipulação política e imoralidade sexual, já nos primórdios da figura do sacerdote. Balaão gostava disso. Imoralidade sexual era traço marcante, conforme uma grande inscrição descoberta em 1.967 por uma expedição arqueológica holandesa. Essa pedra ficou depositada no museu Rockefeller de Jerusalém e depois foi transferida para Leiden. Trata-se do Tell de Deir ‘Allah. Essa pedra relata o encontro de Balaão com a deusa Shegar da fertilidade. Em sequência, a pedra registra os conselhos de Balaão pros seus ouvintes: “deêm mulheres religiosas para orgia com os sábios”…e adentra em inúmeras metáforas eróticas, com uma mistura explosiva de sexo e religião.

Esse sacerdote ficou vinculado à imoralidade e simonia entre as religiões monoteístas de tal forma que seu nome encontra eco no Alcorão (Suratra), aproximadamente 2.700 anos depois de sua existência, e no Novo Testamento (Epístolas de Pedro e Apocalipse), mais ou menos 2.100 anos depois do seu primeiro registro histórico. Em ambos, sempre vinculado ao descaminho da religião sincera e ao uso da religião para proveito próprio.

Em tempos recentes, enxergamos situações fácticas que reverberam esse arquétipo: Jimmy Swaggart e Jim Bakker, mesmo acusados de enriquecimento e uso político-financeiro da religião, só declinaram seus serviços após denunciadas suas imoralidades sexuais. Morris Cerullo, mesmo acusado de uma falsa cura e uso da religião para enriquecimento pessoal nos anos 90 prossegue hoje com seu império – faltou-lhe o pecado sexual para o declínio. No Brasil, o Reverendo Caio Fábio mesmo sob as acusações de participação no falso dossiê Caiman e ligações com o PT prosseguiu seu trabalho religioso, que só foi duramente abalado após as notícias de seu adultério e divórcio. O bispo Edir Macedo apesar de todas as acusações de uso político, fraude e enriquecimento devido à religião prossegue com seu império, e só começou a perder respeito e membros de sua igreja quando posicionou-se favoravelmente ao aborto, assunto dos domínios do tema da sexualidade/fecundidade.

Entre os católicos, apesar de todas as críticas existentes de que a milenar  denominação é uma igreja rica, e de que atua politicamente em próprio interesse, só houve abalo da imagem dos sacerdotes a partir das denúncias da existência de padres pedófilos.

A Revista Veja, na sua edição de domingo, 11 de março de 2.012, relata acusações de estupro e imoralidade sexual contra o Pastor Marcos Pereira, antes conhecido por uso político da fé e obtenção de vantagens para si através da religião. Possivelmente seu ministério religioso – se ele não conseguir afastar essas acusações – vai ser rejeitado pelo povo. É que o arquétipo de Balaão exige a presença dos três traços: ouro, poder político e má-conduta sexual. E as denúncias contra ele possuem os três.

Balaão ainda existe.


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Uma resposta para “O arquétipo do sacerdote aproveitador”.

  1. Curti e aprendi mais! Parabéns!

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