Há um trecho em O Senhor dos Anéis, logo após a aparente morte de Gandalf ao enfrentar o demônio Balrog nas Minas de Moria, em que Gimli, o anão, e seus companheiros da Sociedade do Anel saem arrasados das Minas, chorando e profundamente abalados com a perda de seu Mestre. Gimli, então, dirige-se a um lago próximo, o Lago do Espelho, com águas profundas e claras. Ele olha para o lago, buscando ver o reflexo de seu rosto, mas não enxerga nada de si, apenas as estrelas e as montanhas ao redor refletidas.
A morte de Cristo é a cura do narcisismo; assim como catástrofes e lutas são usadas por Nosso Senhor para guiar seus fiéis a uma compreensão mais profunda e à vivência dessa verdade em suas vidas. Toda perda nos remete a Cristo. Ao contemplarmos Sua morte e compreendermos o partir do pão na Ceia do Senhor como uma visão fugaz, em espelho, de seu corpo partido na Cruz, enxergamos menos a nós mesmos e mais o que está ao nosso redor. Não vemos mais o nosso reflexo, mas a criação ao nosso lado, os outros e o mundo de Deus.
Moria, na Bíblia, não é uma mina, mas um monte, onde Abraão iria sacrificar seu filho Isaque, prefigurando o sacrifício de Cristo. A mina, segundo Mircea Eliade, simboliza o mundo subterrâneo, associado à criação e à transformação na simbologia religiosa. O indivíduo desce a esse mundo inferior; Gandalf, um tipo literário de Jesus, morre para salvar seus discípulos. Ao saírem da mina, os companheiros, na aliança do batismo nas águas, deixam de ver a si mesmos, encontrando apenas o mundo de Deus.


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